
Após o lançamento do Chevy II, em 1963, um compacto para disputar com o crescente número de carros europeus que invadiam o mercado americano, a divisão Chevrolet da General Motors percebeu que não havia nada a oferecer no segmento dos médios. O comprador teria que optar pelo "pequeno" Chevy II ou pelo enorme Impala. Temendo perder mercado para a Chrysler, Ford e American Motors, a marca da gravata-borboleta sanou o problema em 1964, com o lançamento do Chevelle.
O carro logo caiu no gosto do consumidor, graças à variedade de versões, que incluíam o esportivo SS, o Malibu, o 300, um conversível e uma perua. Era disponível com duas ou quatro portas e motores que iam do seis-cilindros básico, com cilindrada de 3,2 a 3,8 litros (este semelhante ao do primeiro Opala), passando pelos V8 básicos de 283 pol3 (4,64 litros, de 195 a 220 cv) até o small block (bloco pequeno) 327, de 5,36 litros, que entregava entre 250 a 300 cv (todas as potências deste artigo são brutas, salvo se indicado em contrário).
Mas o melhor ainda estava por vir. John Zachary DeLorean (o mesmo que criaria o esportivo DMC-12 nos anos 80), então engenheiro-chefe de motores da Pontiac, foi autorizado a colocar um V8 big block (bloco grande) de 389 pol3 (6,38 litros) em um Pontiac médio, o Tempest, que até então era um verdadeiro fracasso de vendas. Ali era criado o primeiro muscle-car da história: o Pontiac GTO.
Com os excelentes resultados de vendas do Pontiac, logo a diretoria da Chevrolet solicitou providências semelhantes. O resultado viria logo: sua carroceria "A" era recheada com motores mais potentes ao longo da década de 60. A combinação de alto desempenho com preços baixos acabou fazendo dos Chevrolets médios campeões de popularidade.

Mesmo assim, o departamento de marketing da Chevrolet continuou insatisfeito: não mais queria oferecer carros populares, de desempenho inferior ao das divisões Pontiac, Oldsmobile e até Buick. Era a hora de fazer a versão SS do Chevelle tornar-se uma lenda americana. O motor 327 L79 gerava agora 350 cv, enquanto o 396 L37 era limitado ao pacote de opcionais Z16. Apenas 201 unidades deste pacote foram produzidas, sendo 200 hardtops (teto rígido) e apenas um conversível, o que faz deste um dos carros de fabricação em larga escala mais raros do mundo.
O diferencial autobloqueante não era oferecido como opcional, o que fazia com que qualquer arrancada mais forte derretesse o pneu Goodyear Goldline 7,75-14 traseiro direito -- devido à reação ao torque, o cardã tende a ir para um lado e o eixo rígido para o outro, aliviando o peso daquela roda. Mas o perigo estava mesmo nos freios a tambor, insuficientes para segurar tanto motor, mesmo descontado o otimismo do velocímetro, cuja escala chegava a 160 milhas por hora (256 km/h).
Quanto aos Chevelles SS, eram carros bem construídos, com estrutura mais rígida, suspensões mais firmes e relação mais baixa de direção, que a tornava mais rápida. Uma caixa de câmbio Muncie de quatro marchas, com alavanca no assoalho e diferencial mais curto (4,56:1 contra 3,31:1 dos Chevelles convencionais), fazia com que os SS marcassem o asfalto cada vez que a luz verde se acendia, nas ruas ou nas pistas, fazendo o quarto-de-milha em 14,6 s e encerrando-o a 160 km/h. Para acelerar de 0 a 96 km/h bastavam 6 s.
Mas o carro também tinha suas deficiências. Apesar de 56% do peso estar sobre o eixo dianteiro, a estabilidade continuava precária, problema que acompanharia o Chevelle -- e muitos carros americanos de então -- por muito tempo. Mas ano após ano o carro incorporava novidades. Em 1966 ganhava um estilo totalmente novo, com alterações no teto, pára-lamas, grade, faróis e lanternas. Tornava-se mais longo e aerodinâmico.

Em 1967 vinham novos motores de seis cilindros (3,8 e 4,1 litros), o V8 básico 283 (4,6 litros), passando pelos small blocks 327, de 275 a 325 cv, e as mesmas opções para o 396 (L35, L34 e L78). Pneus mais largos em rodas de 14 pol e freios a disco dianteiros eram essenciais para segurar toda a cavalaria. A transmissão automática Turbo Hydramatic, de três velocidades, passava a ser alternativa à Powerglide de duas marchas e às manuais de três e quatro marchas.
Totalmente redesenhado para 1968, o Chevelle já não guardava semelhança com os modelos que o antecederam, mostrando um capô mais longo e um estilo fastback característico do final da década. O entreeixos era reduzido, havendo 10 cm de diferença entre os modelos de duas e de quatro portas. Os motores seis-cilindros básicos e os V8 big blocks continuavam os mesmos, mas os small blocks tinham pequenas diferenças.
O 283 era aposentado em favor do 307 (5,0 litros) de 200 cv. O L78 estava de volta, para acompanhar o L35 e L34 na lista de opcionais. As relações de diferencial variavam de 2,73:1 a 4,88:1, uma opção a ser feita na concessionária. A suspensão ainda consistia um ponto crítico do carro e o mecanismo de engate de marchas da Muncie não tinha sido aperfeiçoado.
As edições limitadas do Chevelle eram bem interessantes, como aquelas encomendadas por concessionárias e clientes preferenciais, chamadas de COPO (Central Office Production Order, ordem de produção do escritório central). Esses tinham direito a "pequenos" V8 427 (7,0 litros) L72, de 425 cv e 63,5 m.kgf de torque a 4.000 rpm. Faziam de 0 a 96 km/h em 5,1 s e o quarto-de-milha em 13,3 s, contra 6,5 e 14,5 s do L78 de produção regular.

Na verdade, o LS6 era uma afronta da Chevrolet contra o alto comando da GM, que proibira motores maiores de 400 pol3 (6,5 litros) em plataformas médias. Um dos opcionais mais populares era o cowl induction hood, um capô com ressalto para acomodar o carburador Holley em cima do coletor high rise, além das travas no capô e das rodas Rallye de cinco raios, cujo desenho seria imitado pelo Opala SS brasileiro.
O ano de 1971 foi um dos piores para a industria automobilística americana. A poluição nos grandes centros tornava-se preocupante e o governo tomava decisões drásticas. Em 1972 a situação ficava ainda mais crítica: a versão SS passava a ser apenas um pacote de opcionais para qualquer Chevelle V8. O resultado podia ser visto em Chevelles SS com motor 307 V8 de patéticos 130 cv líquidos.
O fim estava próximo -- 1973 marcou o fim da estrada para a versão SS. A popularização do pacote SS fora tal que estava disponível até mesmo para a perua Chevelle de cinco portas... O carro perdia muito em estilo, com linhas nada harmoniosas. O golpe final seria dado com a crise do petróleo naquele ano, abrindo caminho para que os eficientes japoneses tomassem de vez o mercado americano. O L65 possuía apenas vergonhosos 145 cv a 4.000 rpm.
Em 1974 a versão Laguna substituía a SS como topo de linha. Como atrativo trazia os assentos dianteiros giratórios, fazendo do Chevelle mais um carro de luxo no mercado. Apesar disso, as vendas começavam a aumentar por causa de seu retorno às pistas em 1975, quando a Chevrolet colocava no mercado o Laguna S. A maior novidade era o estilo aerodinâmico do capô, antecipando algumas tendências de estilo vistas no Camaro.

FICHA TÉCNICA
Chevelle SS 454 1970
MOTOR - dianteiro, longitudinal, 8 cilindros em V; comando no bloco, 2 válvulas por cilindro. Cilindrada: 7.440 cm3. Potência máxima bruta: 450 cv a 5.600 rpm. Torque máximo bruto: 69,1 m.kgf a 3.600 rpm.
CÂMBIO - manual, 4 marchas; tração traseira.
SUSPENSÃO - dianteira, independente; traseira, eixo rígido.
FREIOS - dianteiros a disco; traseiros a tambor.
DIREÇÃO - assistida.
DIMENSÕES - comprimento, 5 m; entreeixos, 2,84 m; peso, 1.500 kg.
DESEMPENHO - aceleração de 0 a 96 km/h, 6,1 s.
MOTOR - dianteiro, longitudinal, 8 cilindros em V; comando no bloco, 2 válvulas por cilindro. Cilindrada: 7.440 cm3. Potência máxima bruta: 450 cv a 5.600 rpm. Torque máximo bruto: 69,1 m.kgf a 3.600 rpm.
CÂMBIO - manual, 4 marchas; tração traseira.
SUSPENSÃO - dianteira, independente; traseira, eixo rígido.
FREIOS - dianteiros a disco; traseiros a tambor.
DIREÇÃO - assistida.
DIMENSÕES - comprimento, 5 m; entreeixos, 2,84 m; peso, 1.500 kg.
DESEMPENHO - aceleração de 0 a 96 km/h, 6,1 s.
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