Shelby Mustang - O Mito!

O Mustang é considerado um dos maiores clássicos americanos. Não apenas por sua limitada produção -- pouco mais de 2.000 unidades --, mas também por estar ligado a uma das maiores personalidades da história recente do automóvel: Carroll Shelby. Para entender esse carro é necessário entender um pouco mais de seu "pai". Shelby, um texano nascido em 1923, colocou seu nome na galeria da fama do automóvel através de uma bem-sucedida carreira nas pistas e como criador de poderosos bólidos.

Ao voltar da Segunda Guerra Mundial, Shelby entrou no mundo dos negócios dirigindo um pequena frota de caminhões de lixo. Após um teste de aptidão que revelou que ele deveria criar animais, começou um criação de galinhas. Sua empreitada terminou logo, quando seus animais contraíram a doença de Newcastle e morreram todos. Shelby começou a correr pouco depois, a bordo de um Ford 1932, mais tarde passando a um MG TC. O mundo das corridas estava ressurgindo após a guerra e ele estava no lugar certo.

Com seu sucesso nas pistas, fez fama nos Estados Unidos e começou a receber ofertas para pilotar carros-esporte de milionários americanos. Embora estivesse vencendo tudo o que podia, não conseguia pagar suas contas. Apesar do reconhecimento -- foi considerado o Piloto do Ano pela revista Sports Illustrated em 1956 e 1957 --, as corridas nos EUA eram estritamente amadoras e ele não ganhava muito dinheiro. Foi então que decidiu ir para a Europa.

No Velho Continente pilotou para a Aston Martin com a qual, junto de Roy Salvadori, venceu a 24 Horas de Le Mans em 1959. Retornou aos EUA em 1960 e ainda estava vencendo tudo o que podia quando um problema de coração o afastou das pistas.

Apesar de envolvido com outros empreendimentos, a paixão de Shelby era mesmo os carros -- e em 1961 surgiu a oportunidade de voltar ao mundo do automóvel. Quando a pequena fábrica inglesa AC Cars perdeu seu fornecedor de motores (um 2,0 de seis cilindros), a Bristol, Shelby vislumbrou a chance de fazer seu próprio esportivo. Impressionado com a dirigibilidade e estabilidade do pequeno carro inglês, anteriormente chamado de Ace, sugeriu equipá-lo com um V8 americano.

Nessa época, a Ford havia desenvolvido novos motores e ainda não tinha onde usá-los. Shelby então equipou os carros com os Fords de 260 e 289 polegadas cúbicas (4,2 e 4,7 litros, na ordem). Nascia assim o Cobra. O resultado foi excelente: o carro se tornou o mais rápido da época e, em 1965, a equipe de Shelby venceu o Mundial de GT da FIA, sendo a única empresa americana a conseguir tal feito durante décadas.

Não satisfeito, Shelby resolveu aumentar ainda mais a potência do carro e espremeu um imenso Ford V8 de 427 pol3 (7,0 litros) no Cobra. O carro gerava 425 cv brutos a 6.000 rpm e ficou logo conhecido por sua potência. Em 1967, dirigido pelo jornalista britânico John Bolster, registrou velocidade máxima de 265 km/h e aceleração de 0 a 96 km/h em apenas 4,2 segundos.










Shelby Cobra 1967, 425 cv brutos a 6.000 rpm e velocidade máxima 265 km/h.


Shelby também trabalhou no carro de competição GT40. Henry Ford II queria vencer Le Mans a qualquer preço e contratou a Shelby American para fazer o serviço. Era sem dúvida o homem certo, e obtiveram vitórias em 1966 e 1967. Depois disso, Ford perdeu o interesse.


O grande sucesso de Shelby veio, contudo, com os Mustangs que levam seu sobrenome e que permearam o sonho de toda uma geração entre 1965 e 1970. Os GT 350 e 500 ficaram famosos pelo desempenho e aparência agressiva que as versões comuns não ofereciam. Embora o Mustang tenha sido um grande sucesso desde seu lançamento, seu desempenho não impressionava. Foi então que a Ford resolveu chamar Carroll Shelby para resolver o problema.

Nascia em janeiro de 1965 o Mustang Shelby GT 350. Oferecido apenas na versão fastback, foi logo considerado um carro de corrida disfarçado para as ruas. E nem tão disfarçado assim: era disponível apenas na cor branca com faixas azuis opcionais e interior preto, não tinha banco traseiro nem opção de câmbio automático. Além disso, dispunha de aparência mais agressiva, com um agressivo capô em plástico reforçado com fibra-de-vidro.

O coração da fera era uma versão modificada do Hi-Po de 289 pol3, já usado no Mustang convencional. No Shelby, contudo, com todas as preparações feitas pelo texano e sua equipe, gerava cerca de 305 cv brutos, contra 271 cv brutos dos Mustangs normais. A suspensão dianteira era 25 mm mais baixa e a bateria ficava no porta-malas para melhor distribuição de peso.

Em 1966, no entanto, a Ford abdicava da característica rústica do carro, fazendo Shelby oferecê-lo com banco traseiro, opção de câmbio automático, além de outras opções de cores. O objetivo era aumentar seu mercado, vendendo carros para quem não queria necessariamente competir.







The Road Cars, os carros de estrada, era como a Ford anunciava as duas versões em 1967. Os V8 de mais de 300 cv brutos faziam a alegria de quem queria acelerar

O novo GT 350, mais ameno e menos rústico, foi um grande sucesso, vendendo em 1967 seis vezes mais que em 1966. Entre os compradores estava a grande locadora de carros Hertz, que colocou 936 deles em sua frota, com o logotipo GT 350 H nas laterais. Era comum pessoas os alugarem pelo fim de semana e os devolverem com pneus carecas e sinais de adesivos de números nas portas... rsrs

Em 1967 o GT 350 tinha a frente alongada em 7,5 cm, com elementos em fibra-de-vidro. Shelby também construiu cinco conversíveis, apenas para si e para seus amigos -- nenhum foi oferecido ao público. Ele próprio, contudo, não gostou das alterações feitas nos carros. Seu favorito ainda é o GT 350 de 1965, segundo ele "um carro sem compromisso, fabricado apenas para fazer o serviço".

Foi assim que nasceu o Mustang Shelby GT 500 -- os números usados eram escolha arbitrária, não indicando cilindrada ou potência.

Com o Mustang original adotando um V8 de 390 pol3 (6,4 litros), Shelby pôde equipar o GT 500 com um big-block (bloco grande) de 428 pol3 (7,0 litros), com dois carburadores Holley de corpo quádruplo, que gerava 355 cv brutos. Ultrapassava 220 km/h e acelerava de 0 a 96 km/h em apenas 6,8 segundos. Algumas poucas unidades saíram com outro V8, de 427 pol3.

Utilizava freios a disco na dianteira e transmissão manual de quatro marchas ou uma automática opcional de três. Além deste conforto, oferecia outros refinamentos, seguindo a política da Ford de agradar a todo tipo de consumidor: ar-condicionado, direção assistida (opcional mandatório, ou seja, equipava 100% da produção) e uma série de pequenas comodidades e apetrechos como opcionais.

Externamente o GT 500 trazia algumas alterações em relação ao Mustang convencional, como o capô maior e com uma grande tomada de ar no topo, lanternas traseiras diferenciadas e grandes faróis auxiliares no centro da grade dianteira -- que alguns estados, como a Califórnia, proibiram exigindo seu afastamento. Outras pequenas modificações foram feitas no resto da carroceria. Na corrida por potência, o GT 350 substituía o motor 289 pelo de 302 pol3 ou 4,95 litros, o mesmo aqui utilizado no Landau, Maverick e hoje no Explorer.

Símbolo do desempenho dos muscle-cars, o GT 500

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